Cecil Taylor
(1928-2018)
Nascido em 1929, Cecil Taylor faleceu na semana passada, acabado de fazer 89 anos.
Na juventude Cecil Taylor teve formação clássica, tendo-se interessado pelas ideias de Bela Bartok e Stockhausen. Em 1955 forma o seu primeiro grupo, com quem no ano seguinte grava Jazz Advance, com Buell Neidlinger, Dennis Charles e o jovem Steve Lacy em dois temas. Jazz Advance era composto de sete composições, quatro das quais alheias: «Bensha Swing» de Thelonious Monk, «Azure» de Duke Ellington, «You'd Be So Nice to Come Home To» de Cole Porter e «Sweet and Lovely», uma canção de Gus Arnheim, Charles N. Daniels e Harry Tobias; onde já estavam expostas premonitoriamente as suas ideias revolucionárias.
Se houve alguém que no século XX revolucionou a música, esse alguém terá sido Cecil Taylor. Profeta do caos, improvisador supremo, ele utilizou como ninguém, antes ou depois, todos os recursos do piano, numa linguagem única que se parecia redefinir a todo o momento. Taylor introduziu a atonalidade como forma discursiva, em clusters brutais a que opunha rápidos arpejos dissonantes, de forma amelódica, com derivas percussivas assimétricas, num turbilhão de contrastes que definem a sua música. Mas para Cecil Taylor o piano não é um veículo para a música; mais que um instrumento, o piano é ele mesmo uma orquestra e afinal o universo aos seus dedos; o caos universal, a beleza da música: «a música é a celebração da vida».
Nas suas influências jazzísticas – que cita -, algumas mais óbvias que outras, estão a imprevisibilidade de Thelonious Monk, o engenho composicional de Mary Lou Williams e a percussão de Art Tatum ou Fats Waller, mas da mesma forma a genialidade das concepções orquestrais de Duke Ellington ou de… Gil Evans. Tudo isto, todo o Jazz, e muito para além, toca a música, e a sua desordem, vive nos dedos de Cecil Taylor.
Desde os anos 50 até à segunda década do século XXI o Jazz mudou, como a música mudou e a sociedade, e Cecil Taylor também. O profeta do caos prosseguia no desenvolvimento do seu pianismo heterodoxo, mas progressivamente concentracionário, ao mesmo tempo que trazia para as suas performances gestualidade, teatro e poesia, tornando-se mais do que um músico de Jazz, um artista.
(Correndo o risco de me esquecer de algum concerto; pelo menos estes foram os a que eu assisti) Cecil Taylor tocou em Portugal por cinco vezes:
a primeira em quinteto (sem baixo, com Jimmy Lyons no sax alto, David S. Ware no sax tenor, Raphé Malik no trompete e Beaver Harris na bateria) num concerto de duas horas absolutamente demolidor que ainda recordo, trazido por Duarte Mendonça em 1977, em Espinho (1.º Festival Internacional de Jazz de Espinho – primeiro e único – onde tocaram também os Soft Machine e Buck Clayton).
A segunda no Jazz em Agosto de 1988, a dois pianos com Roger Woodward, por Rui Neves;
a terceira em 1999, por Zé Nogueira para o Serralves em Jazz;
a quarta no CCB com o baterista Tony Oxley, em 2004;
e finalmente em 2011, de novo por Rui Neves para o Jazz em Agosto, a solo.Discografia seleccionada:
- Jazz Advance, 1956 (com Buell Neidlinger, Dennis Charles e Steve Lacy)
- Looking Ahead!, 1959 ( com Neidlinger, Charles e Earl Griffith)
- Stereo Drive, 1959 (com John Coltrane, posteriormente editado como Coltrane Time)
- The World of Cecil Taylor, 1960 (com Archie Shepp)
- New York City R&B: Cecil Taylos/ Buell Neidlinger, 1961 (com Shepp,Clark Terry, Lacy, Roswell Rudd, Don Cherry, Charles Davis, Dennis Charles e Billy Higgins em diferentes formações)
- Unit Structures, 1966 (com Jimmy Lyons, dois contrabaixos: Henry Grimes e Alan Silva e Andrew Cyrille)
- Praxis, 1968 (a solo. Depois de Praxis, muitos dos seus discos contêm temas apenas numerados ou por vezes cortados devido à sua dimensão, quando registados ao vivo)
- Jazz Composer's Orchestra: The Jazz Composer's Orchestra, 1968 (2 LPS, composições de Michael Mantler com Jimmy Lyons, Gato Barbieri, Lew Tabackin, Alan Silva, Charlie Haden, Reggie Workman, Andrew Cyrille e mais dezena e meia de músicos. Taylor toca em apenas um disco, sendo o pianista do outro Carla Bley)
- Nuits de la Fondation Maeght, 1969 (3 LPS, com Lyons, Sam Rivers e Cyrille)
- Dark to Themselves, 1976 (com Jimmy Lyons, Raphe Malik, David S. Ware e Marc Edwards. Um único tema de 61 minutos. Note-se a formação, muito próxima do que tocou em Espinho em 1977)
- Mary Lou Williams/ Cecil Taylor, 1977 («o encontro foi um desastre», escreveu a crítica)
- Historic Concerts, 1984 (gravado em 1979, em duo com Max Roach, dois discos)
- Momentum Space, 1999 (em trio com Dewey Redman e Elvin Jones)
- The Willisau Concert, 2000 (solo)
- Taylor/Dixon/Oxley, 2002 (com Bill Dixon e Tony Oxley)